Paquistanesa que foi vítima de ataque com ácido comete suicídio

 Fakhra Younus, em fotos depois e antes do ataque com ácido (Foto AP)

A vítima de um ataque com ácido no Paquistão Fakhra Younus, que passou por dezenas de cirurgias para tentar corrigir os danos em seu rosto, cometeu suicídio em Roma, onde fazia tratamento. A ex-dançarina de 33 anos pulou da janela do sexto andar do prédio onde morava no dia 17 de março e o corpo chegou no Paquistão para o sepultamento no domingo em Karachi, reiniciando a polêmica a respeito do caso.

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Fakhra foi supostamente atacada pelo marido, Bilal Khar, um ex-parlamentar paquistanês e filho de um político importante do país. Eles foram casados durante três anos até que Fakhra o deixou alegando abuso físico e verbal. Ela contava que tinha ido para a casa da mãe e, enquanto dormia em uma noite do ano 2000, Khar entrou na casa e teria despejado ácido em seu rosto.

Khar foi julgado e absolvido das acusações, mas muitos no Paquistão acreditam que ele usou suas ligações com o poder para poder escapar de uma condenação, algo que seria comum no Paquistão. A morte de Fakhra ocorreu menos de um mês depois de uma cineasta paquistanesa Sharmeen Obaid-Chinoy ter conquistado o primeiro Oscar concedido ao país, o prêmio de melhor documentário de curta-metragem, com o filme de 52 minutos Saving Face, que conta justamente o drama das mulheres atacadas com ácido no Paquistão.

Fakhra Younus era uma adolescente e dançarina na área de prostituição da cidade de Karachi quando conheceu o marido Bilal Khar, filho de Ghulam Mustafa Khar, ex-governador da província do Punjab. Bilal Khar, na época com mais 30 anos, iniciou então com Fakhra seu terceiro casamento.

Em uma entrevista concedida à televisão paquistanesa logo após o suicídio de Fakhra, Khar novamente negou ter atacado a ex-esposa e sugeriu que outro homem, com o mesmo nome, teria cometido o crime. Khar também afirmou que Fakhra cometeu o suicídio pois não tinha dinheiro e não devido aos ferimentos no rosto.

Em uma de suas últimas entrevistas, concedidas em fevereiro, Fakhra afirmou que paquistaneses poderosos tratam cidadãos comuns com brutalidade e "não sabem o quanto eles tornam dolorosa a vida dos outros". Fakhra vivia na Itália e o governo italiano pagava pelo tratamento dela e também dava dinheiro para que ela vivesse no país e pudesse manter o filho de outro relacionamento na escola.

"A parte mais triste é que ela percebeu que o sistema no Paquistão nunca iria dar alívio (a ela). Ela estava totalmente decepcionada (com o fato) de que não havia justiça para ela", disse Nayyar Shabana Kiyani, ativista da organização paquistanesa de defesa das mulheres The Aurat Foundation.

O departamento de direitos humanos do partido paquistanês PPP também se manifestou depois do suicídio de Fakhra. A coordenadora central do departamento, Nafisa Shah, disse ao jornal Pakistan Observer na terça-feira que a morte de Fakhra é o reflexo do estado do sistema de justiça criminal do Paquistão, que não identificou e nem puniu os responsáveis pelo ataque. "Como, 12 anos depois, o principal acusado, responsável por desfigurar Fakhra Younus, está usufruindo de liberdade absoluta, é uma questão que temos que fazer", disse.

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